Desde o início deste
governo, sinto o quanto é delicado tentar descrevê.o e ao “seu trabalho” que,
segundo os seus membros, é feito sempre em prol da Nação.
No entanto, todos
sentem que cada vez se torna mais espinhoso, difícil de entender como pode tratar
da forma que o faz, os portugueses, sejam ou não deficientes, ganhem ou não
salários e pensões de miséria.
Por outro lado, não é
o objecto único deste espaço indicar elementos de solução e tentar remediar
situações consideradas irremediáveis.
Certamente, ninguém
faz da sua vida o que sonhava fazer, quando tinha vinte ou vinte e cinco anos.
Não temos o domínio do nosso destino, tendo-o sobre o nosso voto, cuja
orientação providencial nos deve preocupar a cada dia de eleições.
O belo sonho, que com
tanto amor se tinha alimentado, bem depressa se constata que não resiste às
duras provas da vida.
O tempo, e o senhor
Pedro, corroeu os dados da imaginação e do coração. E, o que é pior ainda, não
é raro que dolorosas atitudes e acções – verdadeiras catástrofes políticas –
transformem, de maneira súbita, os melhor estabelecidos e sólidos lares.
O homem e a mulher,
nesse caso, no nosso caso, ficam sós. E isso tem um significado infinitamente
maior do que parece à primeira vista, sem que seja quem for se queira aperceber
da realidade nua e crua que afecta
população nacional.
Porque, não somente a
sua existência é atingida, o seu conforto, a sua “fortuna” ou a possibilidade
de recomeçar uma vida arruinada pelo desemprego, não havendo “santo nem santa”
que lhes possam valer.
Os filhos esperam,
também eles, que a vida continue. Mais ainda – e isto é o que há de mais
trágico na ocorrência – exigem que ela comece.
Será preciso
encerrar-se na solidão, comprazer-se numa dor que não tem fim, tornar tudo
sombrio, definitivamente? “Demasiado novos para se reformarem, demasiado velhos
para conseguirem novo emprego”, eis o drama social de hoje.
Os filhos não podem
esperar. Reivindicam, como direito, uma certa dose de alegria, o que, se não
lhes é concedido, pode fazer deles seres diminuídos, atrofiados, entregues a um
humor malsão que, dez anos depois, os tornarão inaptos à verdadeira felicidade.
O homem ou a mulher
que se vêm sós, terão a coragem de empreender, por seus filhos, o que
renunciaram a desejar para si mesmos?
E, apesar da
imensidade da sua dor, terão energia bastante para reparar um desastre que os
atingiu, pessoalmente, com tanta crueldade?
Não h´drama mais
patético que esse, e é de espantar que a literatura que vulgariza tantas
insignificâncias e torpezas, jamais tenha ilustrado, por um exemplo concreto, a
sua grandeza e, em muitos casos, o seu heroísmo.
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