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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

«RAÍZ CÉLTICA E RAÍZ LATINA»

Os portugueses não são, como afirmam por vezes irracionalmente, uma raça latina, mas uma civilização, em que a raíz latina tem um lugar essencial.

O espírito portugês revela imediatamente, quando se considera, duas tendências contraditórias; uma de Sancho Pança, e a outra de D. Quixote.

Existe um tendência prática e mesmo terra–a-terra, que exprime sobretudo no temperamento e comportamento tradicional do aldeão.  Origem é, penso, principalmente céltica, pois o celta, mesmo inconstante, poeta e fantasista, agarrado á família, ao sol, a tudo o que enraíza no seu meio.

É por isso que nos distinguimos dos anglo-saxónicos e dos nórdicos e é na vida privada que estes traços se desenvolvem com mais força, pois a vida pública lhe parece que se trata dum outro homem.

Deste ponto de vista, como chefe de família, como membro dessa família ou como indivíduo, o português testemunha num sentido estreito e de interesse material, de um gosto quase apaixonado pela propriedade individual, no sentido romano do termo (uti et abuti, sim é bem assim que ele entende).

Nos assuntos privados, é um ser de bom senso, possuindo um bom grau de espírito de medida: reprovam-lhe quase de não visar bem alto, de se contentar de muito pouco, porque “um tens vale mais que dois terás”, diz-lhe o provérbio, e ele pensa.

Resumindo, na existência de cada dia, é um realista, que tem os pés assentes na terra e que não poupa as palavras.

Os assuntos dos portugueses são, geralmente bem geridos, sobretudo quando guerras e catástrofes não se abatem sobre eles: o seu mobiliário é bem limpo, a sua roupa em bom estado, e apesar de pobre, sabe manter o bom humor…

O português em geral não gosta de dever dinheiro, o seu parco orçamento é equilibrado, e se as depreciações monetárias rendem uma são gestão impossível, é com sincera nostalgia que lamenta o tempo em que podia, à custa de sacrifícios vários, manter um rumo de vida conforme áas regras da sabedoria financeira que herdou de seus pais. Esta sabedoria, é o espírito da poupança que o estrangeiro não possui, e que é susceptível de se tornar mesmo em certo provincialismo e mesmo, em certo grau, materialismo.

Num velho país como o nosso, onde o dinheiro é muito difícil de ganhar honestamente, não será natural que seja defendido seriamente? Mas, o dinheiro não é e nunca será, como alguns pretendem, o novo “deus” nem deve ser considerado como tal. Necessário à vida, mas só isso…

Mas isto não é que, todavia, um aspecto do nosso carácter, que contradiz uma tendência, não menos evidente, para o universalismo e o desinteresse.

E se o dinheiro é necessário à vida de todos,  torna-se necessário fazer uma revisão geral das consciências, libertando o espírito para uma espécie de embraiagem entre a acção e o pensamento.


Ultrapassamos o estreitamento nacionalista e étnico para nos elevarmos a uma noção, propriamente humanista, do homem, e é por aí que a nossa capacidade, a nossa faculdade de libertar os espíritos, de abrir as janelas aparecem verdadeiramente incomparáveis. Esta traço é latino, e nós possuímos sem dúvida a latinidade pelo classicismo que é a base de toda a nossa educação e rumo ao qual somos sempre empurrados pelo nosso instinto nacional mais profundo.

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