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sábado, 17 de agosto de 2013

«O PIOR DOS ANALFABETOS»

Trata-se do chamado “analfabeto mediático”, que ouve e assimila, sem questionar, fala e repete o que ouviu, não participa nos acontecimentos políticos, mas usa as redes sociais de modo a dar a entender que pretende justiçar o mundo. Prega ideias preconceituosas e interpreta factos com a ingenuidade de quem não sabe quem o manipula.

Nas suas deambulações e na Internet, pede liberdade de expressão,  criticando e censurando, atacando quem defende os seus ideais. Não conhece o custo de vida, o preço dos bens essenciais e dos medicamentos, que dependem das decisões políticas e que nelas – na era da informação de massa – são muito influenciadas  pela manipulação mediática dos factos.

Não vê a pressão de colunistas e jornalistas nos jornais, nas emissoras de rádio e televisão  - que também estão presentes na Internet – a anunciar catástrofes diárias, em contramão do que apontam as estatísticas mais fiáveis. Avanços significativos são menosprezados e pequenos deslizes são tratados como se fossem enormes escândalos.

O objectivo é desestabilizar e impedir que as políticas públicas de sucesso possam ameaçar os lucros da iniciativa privada. O mesmo tratamento não se aplica a determinados partidos políticos e a corruptos que ajudam a manter a enorme desigualdade social no país.

Questões iguais ou semelhantes são tratadas de forma distinta pela média; prestar atenção à forma como a média conduz os noticiários sobre os escabrosos casos dos swaps, dos BPN, dom BPP e tantos outros, em que não se notou nenhuma indignação dos principais comentadores e colunistas, nenhum editorial contundente. A televisão pública calou-se, por exemplo…

 O analfabeto mediático é tão burro que se orgulha e incha o peito para dizer que viu e ouviu a informação no telejornal e o leu na revista tal, por exemplo, quando nunca lá passou. Não entende como é produzida cada notícia: não se escolhem as pautas e as fontes antecipadamente, como cada uma delas se vai pronunciar.

Não desconfia que, nalguns canais televisivos, revistas e jornais, a notícia já sai pronta da redacção, bastando ouvir as pessoas que vão confirmar que o jornalista, o editor e, principalmente, o “dono da voz” quer que a verdade dos factos. Para isso as notícias se apoiam em imagens.

Diz-se que “uma imagem vale mais que mil palavras”. Não é tão simples. Fotos e imagens também são construções, a partir de determinado olhar. Também as imagens podem ser manipuladas e editadas ao “gosto do cliente”. Há uma infinidade de exemplos. Usaram-se imagens para provar que o Iraque tinha depósitos de armas de destruição em massa, que nunca foram encontradas. A irresponsabilidade e a falta de independência da média norte-americana ajudaram a convencer determinada opinião pública, e mais uma guerra com milhares de inocentes mortos foi deflagrada.

O analfabeto mediático não percebe que o enfoque pode sr uma escolha construída para chegar a conclusões que seriam diferentes se outras fontes fossem contactadas ou os jornalistas narrassem os factos de outro ponto de vista.

 Imagina que tudo pode ser compreendido sem o mínimo de esforço intelectual. Não se apoia na filosofia, na sociologia, na história, na antropologia, nas ciências política e económica, para compreender minimamente a complexidade dos factos. A sua mente não absorve tanta informação e ele prefere acreditar em “especialistas” e veículos de comunicação comprometidos com interesses de poderosos grupos políticos e económicos.

Lê pouco, muito pouco, geralmente livros de auto-ajuda, tem a certeza de que o que lê, ouve e vê é o suficiente e corresponde á realidade.Não sabe, o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, o corrupto e o espoliador das empresas nacionais e multinacionais.

O analfabeto mediático gosta de criticar os políticos corruptos e não entende que eles são uma extensão do capital, tão necessários para aumentar fortunas e concentrar o rendimento. Por isso recebem todo o apoio financeiro para serem eleitos. E, depois, contribuem para drenar o dinheiro do Estado para uma parcela de iniciativa privada e para os bolsos de uma elite que se especializou em roubar o dinheiro público. Assim, por vias travessas, só sabe ver o político corrupto sem nunca identificar o empresário corruptor, o detentor do grande capital que aprisiona os governos, com a enorme contribuição dos média, para adoptar políticas que privilegiem os mais ricos e mantenham à margem as populações mais pobres.

 Em suma. “destroem a democracia”!!!

Para o analfabeto mediático, Bertol Brecht teria, ainda, uma última observação a fazer. “Nada é impossível de mudar. Desconfiai do mais trivial, na aparência singela. E examinai sobretudo o que parece habitual."

C. A. V.



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