Trata-se do chamado “analfabeto
mediático”, que ouve e assimila, sem questionar, fala e repete o que ouviu, não
participa nos acontecimentos políticos, mas usa as redes sociais de modo a dar
a entender que pretende justiçar o mundo. Prega ideias preconceituosas e
interpreta factos com a ingenuidade de quem não sabe quem o manipula.
Nas suas deambulações
e na Internet, pede liberdade de expressão,
criticando e censurando, atacando quem defende os seus ideais. Não
conhece o custo de vida, o preço dos bens essenciais e dos medicamentos, que
dependem das decisões políticas e que nelas – na era da informação de massa –
são muito influenciadas pela
manipulação mediática dos factos.
Não vê a pressão de
colunistas e jornalistas nos jornais, nas emissoras de rádio e televisão - que também estão presentes na Internet – a anunciar
catástrofes diárias, em contramão do que apontam as estatísticas mais fiáveis.
Avanços significativos são menosprezados e pequenos deslizes são tratados como
se fossem enormes escândalos.
O objectivo é
desestabilizar e impedir que as políticas públicas de sucesso possam ameaçar os
lucros da iniciativa privada. O mesmo tratamento não se aplica a determinados
partidos políticos e a corruptos que ajudam a manter a enorme desigualdade social
no país.
Questões iguais ou
semelhantes são tratadas de forma distinta pela média; prestar atenção à forma
como a média conduz os noticiários sobre os escabrosos casos dos swaps, dos
BPN, dom BPP e tantos outros, em que não se notou nenhuma indignação dos
principais comentadores e colunistas, nenhum editorial contundente. A televisão
pública calou-se, por exemplo…
O analfabeto
mediático é tão burro que se orgulha e incha o peito para dizer que viu e ouviu
a informação no telejornal e o leu na revista tal, por exemplo, quando nunca lá
passou. Não entende como é produzida cada notícia: não se escolhem as pautas e
as fontes antecipadamente, como cada uma delas se vai pronunciar.
Não desconfia que,
nalguns canais televisivos, revistas e jornais, a notícia já sai pronta da
redacção, bastando ouvir as pessoas que vão confirmar que o jornalista, o
editor e, principalmente, o “dono da voz” quer que a verdade dos factos. Para
isso as notícias se apoiam em imagens.
Diz-se
que “uma imagem vale mais que mil palavras”. Não é tão simples. Fotos e imagens
também são construções, a partir de determinado olhar. Também as imagens podem
ser manipuladas e editadas ao “gosto do cliente”. Há uma infinidade de
exemplos. Usaram-se imagens para provar que o Iraque tinha depósitos de armas
de destruição em massa, que nunca foram encontradas. A irresponsabilidade e a
falta de independência da média norte-americana ajudaram a convencer
determinada opinião pública, e mais uma guerra com milhares de inocentes mortos
foi deflagrada.
O
analfabeto mediático não percebe que o enfoque pode sr uma escolha construída
para chegar a conclusões que seriam diferentes se outras fontes fossem
contactadas ou os jornalistas narrassem os factos de outro ponto de vista.
Imagina
que tudo pode ser compreendido sem o mínimo de esforço intelectual. Não se
apoia na filosofia, na sociologia, na história, na antropologia, nas ciências
política e económica, para compreender minimamente a complexidade dos factos. A
sua mente não absorve tanta informação e ele prefere acreditar em “especialistas”
e veículos de comunicação comprometidos com interesses de poderosos grupos
políticos e económicos.
Lê
pouco, muito pouco, geralmente livros de auto-ajuda, tem a certeza de que o que
lê, ouve e vê é o suficiente e corresponde á realidade.Não sabe, o imbecil que da
sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos
os bandidos, que é o político vigarista, o corrupto e o espoliador das empresas
nacionais e multinacionais.
O
analfabeto mediático gosta de criticar os políticos corruptos e não entende que
eles são uma extensão do capital, tão necessários para aumentar fortunas e
concentrar o rendimento. Por isso recebem todo o apoio financeiro para serem
eleitos. E, depois, contribuem para drenar o dinheiro do Estado para uma
parcela de iniciativa privada e para os bolsos de uma elite que se especializou
em roubar o dinheiro público. Assim, por vias travessas, só sabe ver o político
corrupto sem nunca identificar o empresário corruptor, o detentor do grande
capital que aprisiona os governos, com a enorme contribuição dos média, para
adoptar políticas que privilegiem os mais ricos e mantenham à margem as
populações mais pobres.
Em
suma. “destroem a democracia”!!!
Para
o analfabeto mediático, Bertol Brecht teria, ainda, uma última observação a
fazer. “Nada é impossível de mudar. Desconfiai do mais trivial, na aparência
singela. E examinai sobretudo o que parece habitual."
C.
A. V.
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