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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

«A FARÂNDOLA»

…Ele vira-se sobre os calcanhares e desce ao longo da rampa, uma pasta debaixo do braço, cabeça direita, com uma ligeira inclinação, como desafiando todos quantos o seguiam com o olhar.

L´em baixo, seus amigos, camaradas e companheiros, apertaram-lhe a mão. Depois, um grito ouviu-se: “eleições autárquicas!”, clamor imenso, dobrado pelo eco dos corredores, de onde pareciam sair a sombra e a frescura que agora invadiam a zona e retraiam a do sol.

Num instante, “o circo” encheu-se de gente que passava, de tal modo que parecia fazer rebentar as barreiras, com uma massa de aldeões, uma formação de camisas brancas e de vestidos vistosos, lenços de veludo nos cabelos, blusas  bem recheadas e engomadas…

Sobre um palco improvisado onde subiu o candidato, as pessoas alinham-se bem de frente, as mãos tocando-se,  uma chapada num miúdo que ousou tocar uma flauta, pois ninguém pretendia falhar uma só das palavras ditas pelo “palhaço sobre o palco atrás de um púlpito também ele improvisado”, e a farândola dirigida por um tipo do Porto, cidade onde há sempre dançadores famosos.

Alguns estranhos e ou estrangeiros, sorriam-se benevolentes e logo prosseguiam o seu caminho lentamente, enquanto o candidato pigarreava afinando a voz com que se dirigiria aos presentes.

Havia vários acólitos sobre o palco, alguns matolotes do tipo guarda-costas, para tranquilidade do candidato, um  finguelas que melhor faria deixar-se estar sentado em casa, num dos confortáveis sofás que a decoravam.

E ele falou. Primeiro de mansinho, depois com uma certa “violência” na sua quase silenciosa voz, e, finalmente deu por terminado o discurso, esperando ouvir fortes aplausos, depois de colocar em relevo o “trabalho que fez do outro lado do rio”, omitindo, como é óbvio, ter deixado a cidade como a mais endividada do país.

“Olhem lá para cima!”, ouviu-se uma voz forte e pesada pronunciaar.

“Lá em cima”, estava o edifício da Câmara da cidade, onde o candidato pretendia alojar-se por quatro anos, com a sua torre a meio.

Mas, no meio da multidão que ali se apinhava, havia gente que não pertencia à cidade. Tinham sido “convidados” a deslocar-se, em autocarros alugados para o efeito, só para aumentarem a audiência, dando a impressão de que o “candidato” era bem recebido e que a cidade o esperava como seu máximo autarca.

E a farândola subia, subia, chegava quase às portas do edifício, onde o sol inda coloria, de um amarelo claro a torre e parte da fachada principal.

O candidato havia já descido do estrado em sua honra montado e, lentamente, parecendo esgotado após o seu longo discurso – repleto de boas promessas – ele, que era um degradador de templos.

Alguns dos que aplaudiram, sentiam-se agora sedentos e todos foram convidados a molhar a plavra, com bom vinho da região duriense, e onde algumas mulheres, fervorosas adeptas do Porto afirmavam que com ele, o seu clube seria sempre recebido na Câmara sempre que vencesse o campeonato.

Depois, lentamente, assistiu-se à dispersão da “populaça”, até porque havia ainda alguns quilómetros a percorrer, se bem que de “cu tremido” e à pala dos contribuintes da cidade do outro lado do rio, onde outro candidato, ao que parece, faz os seus discursos no Parque Biológico, dirigindo-se em linguagem corrente à população que o habita.



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