O cardeal de Florença, legado do papa
Clemente VII junto do rei de Portugal de 1596 a 1598, escrevia à Santa Sé: “Este
país que governam com mão de ferro, é um milagre que possa subsistir.”
É um milagre que dura há século, com altos e
baixos, mais baixos que altos, com períodos em que Portugal dominava e outros
em que estava abatido.
Sabemos que Portugal, com a sua população de
cerca de dez milhões de habitantes, a sua África impaciente de escapar à sua
tutela, a sua indústria insuficiente para o armamento que uma guerra exigiria,
sem bombas atómicas face a forças enormes que sobem, não pode mais, não quer
conhecer seus altos e baixos, subir a um lugar digno para cair na derrota.
O Portugal de hoje deve estar ávaro do seu
sangue espalhado por tantas guerras. Todavia – diz-se por aí – é preciso que se
mantenha no seu lugar, que corresponde ao seu passado e ao seu presente valor.
É-lhe preciso saber que não pode obter mais nada pela força brutal da
predominância ou da sua glória na qualidade de ideias que posssa pretender
espalhar e fazer admitir.
Hoje, Portugal não passa de um servidor de
desejos de quem nunca soube abrir novos mundos ao mundo! Trata-se de um simples
vagabundo que prefere viver das esmolas que alguns lhe dão, em troca da perda da soberania.
Portugal e seu povo humilde,m que sempre anunciam de brandos costumes, vive
hoje, praticamente na solidão no mundo da filosofia, da literatura, das artes,
das ciências, enquanto alguns pensam e por vezes dizem que não nos sentiremos
sós enquanto nos mantivermos na ONU, na OTAN, nas conferências internacionais,
políticas e científicas,m a voz da
sabedoria e da humanidade.
Ninguém, e tem-lo visto, pode sacrificar, por
pouco que seja a Portugal em recordação dos sacrifícios que tem consentido,
isto é, tem obrigado o seu povo am sofrer. Estamos sós quando se trata dos
nossos próprios interesses.
Deixaremos de estar quando soubermos exprimir
o que é a eterna aspiração dos homens no tempo em que plana a ameaça das bombas
e das núvens atómicas.
É preciso renunciar à forma de grandeza e de
solidão onde se adormece o povo. É
preciso conquistar a grandeza e o universal amor que engendra as obras
eternas do espírito que não pode destruir nenhuma Aljubarrota.
Apesar do peso da sua grandeza política
passada, apesar das fraquezas presentes, apesar da sua solidão quando estão em
causa os seus bens materiais, Portugal deve e pode ser uma muito grande nação.
E só o não é devido à sua pobreza, diria
mesmo miséria e indigência política que alguns estrangeiros nos mostram com uma
certa benevolência hipócrita, humilhando-nos, o que nos obrigará a apresentar
novas formas de vitalidade. Jamais voltaremos a ser uma grande potência
militar, mas deveremos ser uma grande força intelectual e moral e, por
consequência, política.
E se a guerra se torna impossível porque além
de baseada em mentiras não poupadas e porque são temidos os seus efeitos
devastadores, caminhemos em comum para a paz duradoura e segura da República
Portuguesa, onde todos sejam classificados do mesmo modo.
Esta ambição pode parecer insensata num
período tão agitado um sonho insensato.
Mas é justamente porque o mundo está em plena ebulição e que o homem conseguiu
a força atómica ou nuclear que podemos esperar estar em vésperas de tempos
novos em que Portugal voltará a ser grande, quando souberem, os seus cidadãos,
mudar o rumo dos acontecimentos internos, quando o regime actual do custe o que
custar, da desconfiança e do ódio sucederá à era da ideia e da ambição.
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