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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

«A SELVA LUSITANA»



















Essas radiosas intersubjectividades ainda tornam possível o encontro de obras, no vasto sentido do termo. As que oferecem perspectivas críticas, longe dos pensamentos pré-digeridos, vendidos e promovidos pelas modas em vigor em todas as estações e épocas, as que fazem da cultura um meio para se apoderar do mundo de outra forma, para desejá-lo diferente, outro, em vez de ver nela uma ocasião suplementar para praticar a diferenciação e cavar abismos que separam as classes, como se separavam outrora as castas e as raças.

A derrota do pensamento não está generalizada e o triunfo da barbárie ainda não é efectivo.

O intuito de um pensamento crítico libertário consiste sempre em opor a cultura às forças sombrias e gregárias, de certo modo a reactualizar a mensagem e o poder das Luzes que presidiam a Revolução Francesa.

Os objectivos dessa época permanecem actuais: a autonomia da razão, a reflexão livre, desembaraçada dos laços dominantes do momento, a erradicação da condição passiva, a fim de celebrar a actividade, a positividade e o voluntarismo tanto ético como estético, o livre pensamento em oposição a todas as formas de  religião e de comunitarismo, a desconfiança e a suspeição, se não mesmo o ódio, em relação a tudo quanto é gregário.

Os inimigos, semelhantes, também persistem e duram: os promotores da ordem vigente. Aqueles que, em vez de reatctualizar o imperativo categórico de Voltaire – esmaguemos o infame – ou até mesmo o kantiano – sapere aude, pensa por ti mesmo, ousa – preferem celebrar a moral e a religião com as quais este século se inicia no estado que conhecemos.

O objectivo permanece indefectivelmente nietzscheano: “Prejudicar a estupidez”.

Sem isso esta triunfará sozinha, a tal ponto que os antigos autoritarismos parecerão pálidos e ténues ao lado daqueles que terão conseguido escravizar os corpos, decerto, mas também e,sobretudo, as almas.

O fascismo que virá, se é que já não veio, já não se contenta com a sujeição dos corpos: ele dispõe dos meios para conseguir a das almas e isso já hoje, antes de qualquer e hipotética tomada de poder, tipo golpe de Estado.

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