D. Pedro e Inês de Castro viveram uma das
mais belas e trágicas histórias de amor. Uma história que foi imortalizada em poemas,
novelas dramas, pinturas, escultura e, até, em composições musicais e que,
mesmo após 650 anos, continua a encantar n os corações.
O príncipe D. Pedro, filho de Afonso IV e
Beatriz de Castela, nasceu em Coimbra a 8 de Abril de 1320 e morreu em
Lisboa, em Janeiro de 1367. Reinou de
1357 a 1367 (8º rei de Portugal), como D. Pedro I, o Justiceiro, cognome que
lhe foi atribuído pelo povo, por ter exercido uma justiça exemplar, sem
discriminações entre pobres e nobres.
Em 1328, com apenas 8 anos de idade, a princesa
Branca de Castela, foi-lhe prometida em casamento. Porém, o matrimónio não
chegou a consumar-se, por debilidade mental da noiva.
Novo consórcio foi tratado em 1334, com a
infanta D. Constança, filha de D. João Manuel, Infanta de Castela.
A noiva veio para Portugal em 1340, acompanhada
pelo seu séquito, do qual fazia parte uma aia, sua parente, fidalga de origem
bastarda, chamada Inês de Castro, filha do fidalgo castelhano Pedro Fernandez
de Castro.
Segundo os poetas, Inês de Castro era uma
mulher lindíssima, “apelidada” “colo de garça”.
O príncipe D. Pedro, apaixonou-se
perdidamente pela bela Inês de Castro, esquecendo as conveniências e as
reprovações. Ela correspondeu-lhe e passou a ser a sua alma gémea. Por ela, D.
Pedro desprezou as convenções da corte e desafiou, frontalmente, tudo e todos.
A corte considerava uma afronta aquela
ligação indecorosa, pelos problemas morais e religiosos que levantava, bem como
perigo que a influência da família dos Castros poderia trazer à Coroa
Portuguesa.
Apesar de tudo isso, Inês de Castro e D.Pedro
viviam, despreocupadamente o seu idílio, nas bucólicas margens do Mondego.
Todavia, as intrigas que chegavam ao rei D. Afonso IV, o Bravo, apressavam o
monarca a agir, embora o rei compreendesse as razões daquela ligação perigosa,
todo o enredo o levou a tomar uma decisão drástica.
Uma reunião do seu Conselho foi realizada no
Castelo de Montemor-o-Velho, em que o acusado D. Pedro não esteve presente para
se poder defender. Nesta reunião, na qual estiveram presentes, entre outros,
Diogo Lopes Pacheco, Álvaro Gonçalves e Pêro Coelho, el-rei decidiu pela
execução de Inês de Castro. Deste modo, foi selado o destino de Inês, sem
sequer levarem em conta que era mãe de 4 filhos do príncipe D. Pedro. D. Afonso
– que morreu de tenra idade – D. João, D. Dinis e D. Beatriz (nascida em Coimbra
em 1351).
Assim, na manhã de 7 de Janeiro de 1355, os
executores régios, aproveitando a ausência do Infante D. Pedro, nas suas
habituais caçadas, penetraram no paço e ali mesmo decapitaram aquela que depois
de morta foi raínha de Portugal. D. Inês de Castro tinha apenas 30 anos e sua
filha apenas 4.
Inconsolável com a perda de Inês, D. Pedro
chegou a declarar guerra ao pai!
Dois anos depois, quando da morte de D.
Afonso IV e da sua subida ao trono, aos 37 anos, D. Pedro diligenciou a captura
dos assassinos de D. Inês. Consegui aprisionar dois deles: Álvaro Gonçalves e
Pêro Coelho. O terceiro, Diogo Pacheco, teria trocado de roupa com um mendigo e
fugido para parte incerta
A Pêro Coelho, mandou retirar o coração pelo
peito e a Álvaro Gonçalves pelas costas, por os considerar homens sem coração,
que destruíram o seu grande amor…
Cumprida a sua vingança, D. Pedro ordenou a
trasladação do corpo de Inês da campa modesta no Mosteiro de Santa Clara em
Coimbra, onde se encontrava, para um túmulo delicadamente lavrado qual renda de
pedra, que mandou colocar no Mosteiro de Alcobaça.
Majestosas honras foram prestadas, sendo o
caixão acompanhado por cavaleiros, fidalgos, muito povo, clero e donzelas e
homens empunhando círios acesos ao longo do percurso. Chegado ao Mosteiro de Alcobaça foram
celebradas muitas missas e outras cerimónias solenes, até ao depósito do caixão
na arca tumular.
Procurando dignificar o nome de Inês de
Castro, D. Pedro declarou solenemente, apesentando como testemunhas D. Gil,
Bispo da Guarda e Estêvão Lobato, seu criado, que sete anos antes casara com
ela em Bragança, tendo esta afirmação pública sido proferida a 12 de Junho de
1336, em Cantanhede.
Este inqustionável amor foi imortalizado em
poemas, como em Os Lusíadas, estrofes 120 a 129, de Luis de Camões.
Lusíadas
Canto terceiro, estrofes 120 a 129
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo o doce presto.
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito;
Nos saudosos campos do Mondego,
Dos teus formosos olhos nunca enxuto.
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
Do teu príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus formosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos voavam,
E quanto enfim cuidava e via
Eram tudo memórias de alegria.
De outras belas senhoras e princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo enfim, tu, puro amor, desprezas,
Quando um gesto suave te sujeira.
Vendo estas namoradas estranhezas
O velho pai sisudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria.
Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Matar do firme amor o fogo aceso,
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra uma fraca dama delicada?
Traziam-na o horrificos algozes
Ante o rei, já movido a piedade,
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade;
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu príncipe e filhos, que deixara.
Que mais que a própria morte a magoava?
Para o céu cristalino alevantando
Com lágrimas os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estavam atando
Um dos duros ministros rigorosos).
E depois nos meninos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfandade como mãe temia,
Para o avô cruel assim dizia:
«Se já nas tantas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente –
Nas rapinas aéreas tem o intento
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedosos sentimentos,
Como co’os irmãos que Roma edificaram,
Ó tu, que tens de humano o gesto e o jeito
(Se de humano é matar uma donzela
Fraca e sem forças, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mora-te a piedade sua e minha,
Pois não te move a culpa que não tinha.
E se, vencendo a Maura resistência
A morte sabes dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vida com clemência
A quem para perdê-la não faz erro;
Mas, se to assim merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e misero destino
Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente,
Onde em lágrimas vive eternamente.
Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre jeitos humanos não achei,
Ali, co’o amor intrínseco e vontade
Naquele por quem morro, criarei,
Estas relíquias suas, que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.»
=Luis Vaz de Camões=
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