Que não os acusem de arrivismo, àqueles que
atravessaram e marcaram tantas civilizações. Nada há neles de recente, de
improvisado: a sua promoção à solidão coincide com a aurora da História; até os
seus defeitos são imputáveis à vitalidade da sua velhice; à sua experiência
demasiado longa; aos excessos da sua astúcia e da sua agudeza de espírito; à
sua experiência demasiado longa.
É verdade que não poderão citar qualquer
vitória espectacular: mas não será uma dessas vitórias a sua existência? Uma
vitória ininterrupta. Terrível, sem qualquer possibilidade de alguma vez chegar
ao fim.
Negar a sua coragem é desconhecer o valor, a
alta qualidade do seu medo, que é neles um movimento não de retraimento, mas de
expansão, um início camuflado de ofensiva. Porque esse medo, ao contrário do
que fazem os poltrões e os humildes, converteram-no eles em virtude, em
princípio de orgulho e de conquista.
Não é um medo frouxo, como o da população,
mas tenaz e invejável, feito de mil terrores que se transfiguram em actos.
Segundo uma receita que tiveram o cuidado de
não nos revelar, as nossas forças negativas; os nossos torpores, em migrações.
O que nos imobiliza, fá-los caminhar e saltar
em frente: não há barreira que o seu
pânico itinerante não vença, à custa da miséria e fome que vão espalhando pelo país.
Apesar de tantas metamorfoses, conservam a
sua “identidade” roubando os mais pobres para distribuirem pelos mais ricos.
Dito de outra forma, a sua capacidade de recomeçar, depois das piores derrotas,
um existência nova, retomando o destino nas mãos? Trata-se de um prodígio.
Observando-os, sentimo-nos maravilhados e estupefactos.
Ainda nesta vida, ei-los que fazem a
experiência do Inferno. Tal é o preço da sua longevidade.
Quando começam a decair e os julgamos
perdidos, refazem-se, voltam a erguer-se e recusam-se à quietude do malogro.
E se, expulsos dos seus lugares, apátridas
natos, nunca se sentem tentados a abandonar o combate.
Mas nós, aprendizes do exílio, desenraizados
recentes, desejosos de chegarmos à esclerose, à monotonia da queda, a um
equilíbrio sem horizonte nem promessa, nós rastejamos atrás das nossas desgraças;
a nossa condição ultrapassa-nos; incapazes de terrível, somos feitos para nos
arrastarmos numa qualquer Península Ibérica de sonho e não para partilharmos a
sorte de uma legião de Únicos.
Sem comentários:
Enviar um comentário