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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

«DIGNÍSSIMO FILHO DA PUTA»

Pela presente, venho dirigir-me a vossa excelência. Com minúsculas e na segunda pessoa, pessoa de segunda que és, de nariz empertigado. Tu, que te ocultas, sorrateiro, por trás dessa impecável e pretíssima veste de bosta.

Tu que recebes aprumado a reverência do país de joelhos à espera das tuas soberanas e irretocáveis decisões peremptórias.

(Como deves compreender, não faço uso desse tal acordo desortográfico com o qual pretendeis, vós os execlentíssimos, dar cabo da língua pátria portuguesa.)

Tu, que estás imbuído da divina prerrogativa, intransferível e quiçá vitalícia, de julgar e decidir o destino dos homens que habitam o mundo dos vivos, já que o dos mortos  foge à tua jurisprudência, instância suprema à do teu supremo.

Embora nutras anseios em manter a paridade e a equiparação divina com Aquele que exerce tal comptetência, tu, cordeiro com pele de urso, que reclama indignamente indignado por direitos inalienáveis e vives na intimidade inescrutável da tua vida privada de tramóias inconfessáveis. Tu mesmo, nobre calhorda, que de tanto exercer o ofício de julgar os outros, mesmo não sendo juíz, julgas-te acima de todos os outros.

Venho oficiar-te, honorável patife, que há mais rectidão e honra na palavra espontânea e honesta que brota do coração de um  humilde iletrado que de um alfarrábico que sustém as tuas áridas, infindáveis, mirabolantes e ordinárias sentenças. As mesmas que revestes, impávido, em capa dura, fazendo-as constar com letras doiradas dos anais que ostentas nas prateleiras onde expões a tua soberba grandiloquência farisaica e a toda rocambolesca sapiência estéril.

Amealhas, com vilezas, recursos tomados do povo injustiçado para manter intacto esse intrincado e indecifrável sistema, tão inócuo quanto iníquo, que qualificas cinicamente de justiça, a fim de cobrir com aura de magnificência e infalibilidade essa espectaculosa e sumptuosa pantomina patética e embusteira a fim de deixar boquiabertas as legiões dos sem-justiça deste país, mantendo-os sob o jugo do teu parecer.

Sai da toca, egrégio velhaco. Desce desse palácio de letras, capítulos, parágrafos, alíneas,  cláusulas em que te enclausuras.

Cumpre salientar, excelentíssimo pústula, que as ruas, caso não observes do palácio que “construíste”, sem decurso de prazo, para te isolares da realidade de facto de de direito, estão repletas de malfeitores que pomposamente livraste das masmorras. Não por um sentimento benevolente de perdão ou por uma crença abnegada no poder de recuperação humanamas por um displicente pragmatismo jurídico-social e humano.

Delinquaentes de toda a espécie a quem remistes da pena, hoje libertos de punição, emm  uníssono,zombam, sob a tua retumbante indiferença dos tolos  que se pautam em princípios de honradez.

Sob o manto do teu garganteado “estado de direito”, canalhas, corruptos, patifes, ladrões de todas as espécies ascenderam aos postos de direcção com a tua serena condescendência. Mais:  com a tua cruel cumplicidade.São estes que tratas com a mais alta leniência, amparando-os com a força irrefutável da lei, draconiana indulgência e intolerância zero. Cobrindo a impunidade com o manto legalista da imunidade.

Os princípios da rectidão e civilidade estão dentro de nós (e fora de ti). Num mundo de justos, a tua justiça não se ajusta.

Data vénia, vai para a p (*) que te pariu, excelentíssimo filho da puta!
    



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