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terça-feira, 5 de novembro de 2013

«DESTRUÍDOS POR QUEREREM DAR UM SENTIDO À VIDA»

Já não há saída para aquele que, ao mesmo tempo, ultrapassa o tempo e nele se atola, que atinge por entre sobressaltos a sua última solidão e, porém, se afunda na aparência.

Indeciso, dividido, arrastar-se-á como doente de longa duração, exposto simultaneamente  às atracções  do devir e do intemporal.

SE acreditarmos em Mestre Eckhart, existe um “odor” do tempo, por maioria de razão deverá existir um “odore” da história.

Como ser-lhe insensível?

Num plano mais imediato, distingue-se a ilusão, a nulidade, a podridão da civilização. Sinto-me, pessoalmente, porém, solidário dessa podridão; sou um “fanático” de uma carcaça apodrecida. Somos o futuro de carcaças apodrecidas.

Acuso, quer o nosso século (XXI) como os actuais “políticos” de nos ter subjugado ao ponto de continuar a assombrar-nos precisamente no momento em que deles nos afastamos.

Nada de viável pode nascer de uma meditação de circunstância, de uma reflexão sobre o acontecimento…

Noutras idades mais felizes, os espíritos podiam delirar livremente, como se não pertencessem a época alguma, emancipados que estavam do terror da cronologia, abismados num momento do mundo que, para eles, se confundia com o próprio mundo.

Sem se preocuparem com  a relatividade da sua obra, consagravam-se-lhe inteiramente, falando quase exclusivamente hoje de hipocrisias,m comom a equidade, a ingualdade e a justiça sociail, sem saberem exactamente de que se trata.

Estupidez genial, para sempre passada, fecunda exaltação que a consciência dividida em nada comprometia.

Adivinhar ainda o intemporal  e saber, porém, que somos tempo, que produzimos tempo, conceber a ideia de eternidade e acarinhar o nosso nada: irrisão de onde emergem tanto as nossas rebeliões como as dúvidas que alimentamos acerca delas.

Procurar o sofrimento para evitar a redenção, seguir ao contrário o caminho da libertação, também o nosso contributo em matéria de “religião”: iluminados biliosos, budas e cristos hostis à salvação, pregando aos miseráveis os encantos da sua desgraça. Raça superficial, se quiserem. Mas não deixa de ser verdade quem o nosso primeiro antepassado só nos deixou por herança o horror ao Paraíso.

Ao dar um nome às coisas, preparava a sua e a nossa queda. Se  quisermos remediá-la,  teremos de começar por desbaptizar o universo, por retirar a etiqueta que, posta em cada aparência, a eleva e lhe empresta um simulacro de sentido.


Sofrer: a única modalidade de aquisição da sensação de existir; existir; o único modo de salvaguardarmos a nossa perda. E assim será até que uma cura de eternidade nos desintoxique do devir, enquanto nos aproximarmos desses estado no qual,”o instante valem  dez mil anos”.

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