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domingo, 27 de outubro de 2013

«A IGUALDADE INTER-HUMANA»

A igualdade não tem que se realizar no meio da lama, nos pés da guilhotina ou na humidade das choças, mas sim perante a regra do jogo estipulada, que é a mesma para todos, independentemente da cor da pele, da sexualidade, da idade, da inteligência, dos ganhos, das faculdades do sexo, da religião e da opinião de cada um.

Colocado este princípio de um mosaico, este elogio da diversidade adquirida e esta acepção da igualdade consentida,  enquanto definições cardeais da mística de esquerda, pode constatar-se quanto as ideias e as reformas que provinham destes princípios foram, e continuam  a ser, pertinentes, apesar de terem decorridos vários anos.

A Constituinte e a Legislativa a descentralização para que as pessoas da província desfrutassem das mesmas oportunidades que os da capital perante o saber, as riquezas e o poder,, e decidiram descolonizar para que brancos e negros ficassem em pé de igualdade perante a produção de riquezas e perante a lei; decretaram a elegibilidade para todos, mas, como sempre se  verifica, existem os “pára-quedistas” que deixam as suas terras para se candidatarem a outras que não comnhecem minimamente, afim de que os protestantes, os não católicos em geral, proprietários ou desprovidos, pudessem aceder do mesmo modo às funções representativas; votaram leis permitindo a todos o livre acesso às obras de arte, a sua exposição, a sua exposição em museus nacionais criados para esse efeito, de modo a que a cultura deixasse de ser um instrumento de reprodução social e se tornasse uma possibilidade de se elevar a uma promessa de felicidade; decidiram que os soldados se pudessem inscrever nos clubes políticos, abrindo, dessa maneira, a porta da cidadania aos homens de armas; aboliram a distinção entre cidadão activo e cidadão passivo para que os pobres pudessem, tal como os ricos, ter um assento na Assembleia da República; legislaram o divórcio e simplificaram o casamento e a adopção, no intuito de permitir às mulheres uma autonomia que as dispensasse de uma submissão definitiva aos seus maridos.

Que se leve tempo para reflectir e para perspectivar estes princípios emitidos e estas leis votadas a par da realidade, tal como ela é, todos estes anos mais tarde, nem que seja apenas no território nacional, e constar-se-á quanto uma mística de esquerda parece, mais que nunca, necessária para manifestar a permanência de ideais, princípios e virtudes postas a dormir, quando não, pura e simplesmente achincalhadas.

As pessoas da província estarão em pé de igualdade de oportunidades com as da capital, relativamente ao acesso às riquezas, ao saber, à cultura, aos serviços?

As pessoas de cor serão tão bem consideradas quanto os brancos, em todo o lado, em todos os locais, circunstâncias e ocasiões?

Os excluídos do saber e da cultura, os que deles são privados, terão as mesmas oportunidades que os letrados para circularem no labirinto dos conhecimentos?

Em que pé se encontram as crianças, os doentes mentais, os incuráveis, os desempregados, os operários,  os proletários, em matéria de igualdade, de dignidade, de direito puro e simples à existência e a Constituição para os que têm fome e dormem ao relento como cães são meras frivolidades.

O anjo da revolução, mais que nunca necessário, esquece-se deles, dos rejeitados e dos escravos, para os quais, ainda e sempre, se trata de relembrar a necessidade de uma mística de esquerda que impulsione os ímpetos, solicite as energias, insufle os ventos esmorecidos para deles fazer tempestades, as únicas que o político de elite, esparramado na sua pocilga, entende e compreende.


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